segunda-feira, fevereiro 6

"Oh canecas minhas, lindas cadeiras onde me sento. Hup-lá! Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô!"

Poucos aqueles que entendem o título... Enfim...

Qualquer pessoa que já tenha passado pelo 12º ano, ou que esteja a passar por ele neste momento (como eu), me compreende de certeza: aquele Fernando Pessoa não era gente pura.
 
<-- Estou a falar desta personagem à minha esquerda.

Só o facto de ele possuir mais Fernandinhos na cabecinha dele já deveria acabar com as dúvidas de que havia qualquer coisa de errado com o rapaz mas enfim, por algum motivo os professores de português não o vêem como nós. Provavelmente porque já não têm de estudar para aqueles testes em que temos de analisar os poemas do raio do gaiato.




Em primeiro lugar (e vou já começar pela melhor pior parte) vem a grande "Ode Triunfal" de Álvaro de Campos. Para quem não sabe ou não se lembra (e eu não vos culpo nem julgo, porque sei que daqui a uns tenros meses depois dos exames também me irei esquecer), Álvaro de Campos é um dos heterónimos do Nando, ou seja, uma das muitas pessoas imaginárias que existiam na cabeça do pobre coitado do rapaz. E a "Ode Triunfal", para quem não sabe (ou lembra) foi uma das grandes obras deste autor imaginário que era o Álvaro. E foi uma obra de modernismo e futurismo. "Quão futurista?" perguntais vós. Passo a explicar:

"(...)
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!

Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída.
Atirem-me para dentro das fornalhas!
Metam-me debaixo dos comboios!
Espanquem-me a bordo de navios!
Masoquismo através de maquinismos!
Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho!  


Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais!
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas,
E ser levantado da rua cheio de sangue
Sem ninguém saber quem eu sou!

Giro dentro das hélices de todos os navios.
Eia! eia-hô eia!
Eia! sou o calor mecânico e a electricidade!
Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!
Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!
Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!
Hé-lá! He-hô Ho-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!

Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!

Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)"


What. The. Fuck? o.O
Afinal penso que não é necessária explicação. Facilmente se percebe o tipo de homem que era o indivíduo. O problema é que este excerto é uma pequena parte do poema todo. São 240 versos... 240 versos de masoquismo e futurismo e mecânica e loucura e ópio. 240 versos de "grandiloquêncis", "exaltação épica", "ritmo esfuziante", "anáforas", "apóstrofes repetidas", "neologismos ", " grafismos inovadores", etc etc

SIM, porque segundo os professores e as pessoas que estudam esses poemas lindos, quando o homem escrevia cenas destas ele pretendia mesmo fazer todas aquelas "anóforas" e "aliterações" e "antíteses" feito doido. Tipo, nada foi ao acaso. Obviamente. Ele lá se lembrava e pensava "ah, vou por aqui uma aliteração para expressar a minha dor de pensar. Decerto que as pessoas entendem logo. Tipoooo, vou repetir a mesma letra durante uma frase porque assim parece que estou angustiado. Genial."
Yaaaaaaaaaa, tipooooooooo, de certeza. É tudo o que tenho a dizer: DE CERTEZA que foi tudo de propósito.

Se fosse eu a escrever cenas do tipo "Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá! Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô. ZZZZZZZZZZ. Atirem-me para dentro das fornalhas! MATEM-ME CARALHO", internavam-me. Se eu escrevesse isto num composição de português provavelmente era expulsa... expulsa da aula, da escola e de casa. Provavelmente a minha família nem me deixaria manter o meu nome para não os envergonhar. Ficaria sem amigos, tipo forever alone, e acabava com o Nando: alcoólica e cheia de pessoas na cabeça. Oh tristes vidas... 

Eu sei, eu sei, este poema pode parecer coisa do diabo mas aos olhos dos nossos caramelos que são os professores isto é arte de um génio. E nós temos de interpretar o que ia na cabeça do "puto FP" quando escrevia. Porque quando ele diz que quer dormir, na verdade quer morrer, e quando fala sobre cadeiras quer na verdade falar de canecas mas não lhe apetece falar de canecas por isso fala de cadeiras como se as cadeiras fossem canecas. Porque de alguma maneira quando lemos algo do tipo:
"Oh canecas minhas, lindas cadeiras onde me sento"
- temos de associar esta mer** à "nostalgia de infância" e à "fragmentação do eu". E já que estamos com as mãos na massa, ainda nos pedem para associar aquilo à "dor de pensar" que te lixas.

Mas este é apenas um dos seus mais de mil poemas igualmente perturbadores. Agora um de outro amigo do Pessoa, o Alberto Caeiro (Berto para os amigos) que começa assim:
"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,

O Tejo tem grande navios... " etc etc...
 E só memso para confirmar a pouca sanidade do indivíduo que era o Nandinho, o Berto também conhece o Álvaro. Aliás, eles falavam um com o outro... na cabeça no Fernando. E isto é pouco. Todas estas personagens têm data de nascimento e morte e uma vida. Estas pessoas, que não existiram, têm data de nascimento.
Mas o pior... o pior é que toda a gente sabe que o homem era alcoólico, e toda a gente sabe que ele curtia muito de ópio, e que ele tinha montes de amigos imaginários, e que o homem era doido. Mesmo assim, temos de o gramar, e estudar, e analisar. Oh fod**** --'




Isto é que eu e muitas outras pessoas têm de enfrentar todas as semanas até ao final deste ano. Este é o nosso tormento! 
FdP, como eu te odeio...
 
VALETE FRATRES!

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Comentárioooooo, comentáriooooooo...